11 de dezembro de 2012

Veja como foi a Conferência do clima COP18 em Qatar


O presidente da COP-18, Abdullah bin Hamad Al-Attiyah,
bate o martelo (literalmente) para ratificar a prorrogação do Protocolo de Kyoto
Foto: iisd.ca
A COP-18, décima-oitava conferência do clima da ONU, [que ocorreu de 26 de novembro a 07 de dezembro de 2012, no Qatar], estava cercada de incertezas quanto ao principal objetivo do encontro: estabelecer uma extensão do Protocolo de Kyoto, hoje o único acordo internacional de proteção climática em vigor.

O panorama geral das negociações foi resumido pela secretária-executiva do evento, Christiana Figueres. Apesar de iniciar seu balanço da primeira semana da convenção de maneira otimista, ela admitiu que muita coisa inevitavelmente ficará de fora.

Diferentemente da COP-15, que aconteceu em Copenhague em 2009 e foi cercada de muita expectativa sobre um grande acordo global, a atual cúpula já nasceu um tanto morna.

No encontro do ano passado, em Durban, na África do Sul, os países "concordaram em concordar" com a criação de um pacto global de redução de emissões, que englobaria países ricos e pobres. O acordo, porém, ficou para começar a ser definido em 2015, para entrar em vigor até 2020.

Para não deixar o mundo sem nenhuma meta de redução de emissões de gases do efeito estufa, as partes optaram pelo prolongamento do Protocolo de Kyoto, que oficialmente deixa de valer no próximo dia 31.

Além de decidir até quando esse "puxadinho" do acordo valerá -- se até 2017 ou até 2020--, ficou para o encontro de agora a definição do quanto será reduzido nas emissões.
Jovens com cartazes: "Vozes Conectadas: Querido negociadores, 1,5 bilhão de jovens não estão diretamente representados na COP 18 e as suas decisões devem refletir as suas demandas" e "Nós estamos aqui".
Foto: iisd.ca
De qualquer maneira, o acordo já nasce com um alcance limitado. Só a União Europeia e a Austrália, responsáveis por cerca de 15% das emissões globais de carbono, concordaram em participar com ações concretas de redução de emissões do que já está sendo chamado, nos bastidores da COP-18, de "Kyotinho".

Em sua criação, em 1997, o protocolo comprometeu as nações desenvolvidas a reduzir suas emissões de gases-estufa em 5,2%, entre 2008 e 2012, em comparação aos níveis de 1990.

O acordo, porém, já foi criado com ausências importantes. Os EUA não ratificaram o pacto, e nações em desenvolvimento como China, Índia e Brasil, que hoje respondem por boa parte das emissões mundiais, não tinham metas imediatas.

Hoje, o maior impasse para a extensão é puxado por Rússia, Polônia e Ucrânia. Esses países emitiram menos do que poderiam na primeira fase de Kyoto e agora querem levar essas "sobras" no potencial de emissões, o chamado "hot air", para a segunda fase do acordo, o que desagrada boa parte dos negociadores.

Canadá e Japão, que participaram da primeira etapa, já avisaram que não vão aderir ao novo período.

EFEITO DOMINÓ

Embora vá ter um alcance limitado, a extensão das metas de Kyoto é importante na construção do futuro pacto global para redução de emissões.

Especialistas temem que um fracasso nessa negociação influencie negativamente o futuro acordo, que ainda nem foi rascunhado, mas é ameaçado pela prioridade dada à crise econômica mundial.

MÁS NOTÍCIAS

Enquanto o acordo não vem, a COP está sendo marcada pela divulgação de vários estudos pouco animadores sobre as condições gerais do planeta.

Dados preliminares da Organização Meteorológica Mundial indicam que 2012 deve se tornar o nono mais quente desde que as medições foram iniciadas, em 1850. E isso mesmo com a presença do La Niña, fenômeno que contribui para o resfriamento das temperaturas.

O documento destacou ainda o degelo recorde no Ártico e eventos extremos de seca e enchentes espalhados por todo o planeta. A temporada intensa de tempestades tropicais e furacões, incluindo o Sandy, que atingiu o Caribe e os EUA, também foi ressaltada.

Já o relatório "Climate Action Tracker", que analisou a eficácia das medidas para combater o aquecimento global, foi ainda mais pessimista. Praticamente todas as grandes nações emissoras, como China, EUA e Índia, tiveram suas medidas consideradas ineficientes. Desse grupo, apenas Coreia do Sul e Japão tiveram medidas classificadas como satisfatórias.

O desempenho do Brasil foi avaliado como "na média".

Fonte: Folha de São Paulo 03/12/2012 por GIULIANA MIRANDA

Naderev Sano, chefe da delegação de Filipinas, é dada uma ovação de pé por ONGs depois de chorar durante o seu discurso e pedir mais ambição dos países no segundo compromisso do tratado. “Alguém precisa fazer alguma coisa. Se não nós, então quem? Se não aqui, então onde? Se não agora, então quando? Abram os olhos para a dura realidade. Façam o que sete bilhões de pessoas querem, não o que políticos demandam.” - disse. A Filipinas recentemente foi atingida por um grande tufão que deixou mais de 500 mortos e centenas de desabrigados.
Veja mais  aqui e aqui / Foto: iisd.ca

RESULTADO

A conferência terminou na noite de sábado 08/12 (com um atraso de 26 horas) sem conseguir resultados satisfatórios que deveriam ter sido fechados nesta rodada. Depois de um impasse que travou as negociações, os delegados vararam a noite  e terminaram a COP aprovando um texto fraco, tímido e adiando as decisões importantes para 2015.

O segundo período do Protocolo de Quioto foi aprovado e irá durar de 2013 a 2020 e garantirá um corte de 18% dos gases de efeito estufa sobre os níveis de 1990. Muito pouco comparado às metas de 25% e 40% que os cientistas afirmam ser importante para conter o aquecimento global. Outras decisões cruciais, como a questão do financiamento e transferência de tecnologia foram adiadas para 2015. Os recursos que seriam repassados para países vulneráveis e as ilhas para se adaptarem não saíram.

As pendências que deverão ser discutidas para serem aprovadas em 2015 são os pontos-chave que não avançam: como será a distribuição de quem paga mais e quem paga menos? Haverá transferência de tecnologia dos países ricos para os pobres? Como isso afetará as relações comerciais? Quem pagará a conta?

A decisão adiada é do que será acordado em 2015 para começar a ser feito a partir de 2020. O novo acordo pós-Quioto que deverá ser colocado em prática em 2020 envolverá todos os países. Nessa prorrogação do protocolo aprovada em Doha, apenas o bloco europeu e a Austrália ficam tendo metas de redução. Japão, Nova Zelândia, Rússia e Canadá estão de fora dessa nova fase e os Estados Unidos nem quiseram tocar no assunto. Não aceitam o acordo e pronto.

Tudo o que se conseguiu em Doha foi uma prolongação de um plano de trabalho. Mas uma vez uma conferência chamada para tomar decisões sobre um acordo global acaba em nada.

*Fonte: O Eco por Nathália Clark


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