Ao se
trabalhar uma propriedade agro-ecologicamente é preciso considerar a
complexidade dos sistemas, dentro e fora da propriedade. Os agricultores e os
técnicos vêem a lavoura e a criação como elementos dentro da natureza, que não
podem ser trabalhados isoladamente. Precisa-se conhecer os elementos dessa
diversidade para que se possa manejá-los adequadamente, trabalhando a favor da
natureza e não contra ela, como é feito na agricultura convencional.
Trabalha-se
a conservação do solo ao invés de destruí-lo com arações e gradagens
sucessivas. Em vez de se eliminar os inços, aprende-se a trabalhar a parceria
entre as ervas e as culturas, entre as criações e as lavouras.
Nesta
lógica não se considera os insetos como pragas, pois com plantas resistentes e
com equilíbrio entre as populações de insetos e seus predadores, eles não
chegam a causar danos econômicos nas culturas. Dentro desse mesmo princípio não
se trata doença com agrotóxico, mas busca-se fortalecer a planta para que esta
não se torne suscetível ao ataque de doenças e de insetos.
Os
fatores que afetam o equilíbrio e a resistência das plantas são os que
prejudicam a formação das proteínas, tais como: idade da planta, umidade,
aplicação de agrotóxico, adubação com adubo químico solúvel, etc.
Para
manter a planta equilibrada é preciso que ela receba uma nutrição adequada, o
que não se consegue utilizando adubos químicos solúveis, devido a suas altas
concentrações e solubilidade que provocam absorção forçada pela planta e consequentemente
criam desequilíbrios metabólicos. Estes desequilíbrios deixam a seiva rica em
aminoácidos livres, o alimento predileto dos parasitas.
Para
uma nutrição adequada, é necessário que o solo seja fértil e biologicamente
ativo, como terra de mato que sustenta árvores gigantescas sem nunca ter sido
adubada.
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Solo Convencional x Orgânico, veja que o solo orgânico é mais rico em microrganismo vivos e Matéria orgânica. |
Solo
fértil é solo vivo, com muita matéria orgânica e com diversas espécies
vegetais, insetos e microorganismos. Quanto mais matéria orgânica, mais vida
tem o solo, melhor nutrida e equilibrada é a planta que nele se desenvolve.
O
agricultor deve conhecer cada vez mais os sinais da natureza. Ele deve saber
que quando aparecem muitos insetos, ou determinado tipo de erva nativa, é
devido a algum tipo de desequilíbrio ou alguma carência. Neste caso, o certo é
corrigir o desequilíbrio, ao invés de matar os insetos ou eliminar a erva, pois
devemos eliminar a causa do problema e não apenas suas conseqüências.
A
terra se cobre daquilo que é melhor para ela: se tem samambaia é porque o solo
é ácido; guanxuma é porque o solo está compactado; o cabelo de porco indica
exaustão de cálcio etc. Isto tudo significa que, conhecendo estes e outros
sinais da natureza, as práticas de manejo utilizadas pelo agricultor virão em
benefício da natureza e não contra ela.
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Sistema Agroflorestal - Bananeiras com Adubos Verdes e Árvores Perenes |
Técnicas
Agroecológicas
Adubação
verde
A
adubação verde é o cultivo de plantas que estruturam o solo e o enriquecem com
nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, cálcio e micronutrientes. As plantas de
adubação verde devem ser rústicas e bem adaptadas a cada região para que
descompactem o solo com suas raízes vigorosas e produzam grande volume de massa
verde para melhorar a matéria orgânica, a melhor fonte de nutrientes para a
planta.
Adubação
orgânica
A
adubação orgânica é feita através da utilização de vários tipos de resíduos,
tais como: esterco curtido, vermicomposto de minhocas, compostos fermentados,
biofertilizantes enriquecidos com micronutrientes e cobertura morta. Todos
esses materiais são ricos em organismos úteis, macro e micro nutrientes,
antibióticos naturais e substâncias de crescimento.
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Esterco bovino |
Adubação
Mineral
A adubação mineral é feita com adubos minerais naturais de sensibilidade lenta,
tais como: pó de rochas, restos de mineração, etc. Estes adubos fornecem
nutrientes como cálcio, fósforo, magnésio, potássio e outros, em doses
moderadas, conforme as necessidades da planta.
Não
usar agrotóxicos
Os
agrotóxicos, além de contaminar as águas, envenenar os alimentos, matar os
inimigos naturais dos parasitas e contaminar quem os manuseia, desequilibram as
plantas, tornando-as mais suscetíveis.
É
comum que logo depois de uma aplicação de agrotóxicos as plantas sofram ataques
ainda mais fortes, obrigando o agricultor a recorrer a venenos mais fortes
ainda.
Não
usar adubos químicos solúveis
Este
tipo de adubação é a causa de dois problemas sérios: a morte de microorganismos
úteis do solo e a absorção forçada pela plantas, pois estes sais, além de se
solubilizarem na água do solo, apresentam-se em altas concentrações. Este
processo resulta em desequilíbrio fisiológico da planta, deixando-a suscetível
aos parasitas.
Usar
defensivos naturais
Defensivos
naturais são produtos que estimulam o metabolismo das plantas quando
pulverizados sobre elas. Estes compostos, geralmente preparados pelo
agricultor, não são tóxicos e são de baixo custo. Como exemplos podemos citar:
biofertilizantes enriquecidos, água de verme composto, cinzas, soro de leite,
enxofre, calda bordalesa, calda sulfocálcica, etc.
Combinação
e rotação de culturas
Esta
consiste em cultivar conjuntamente plantas de diferentes famílias, com
diferentes necessidades nutricionais e diferentes arquiteturas de raízes, que
venham a se complementarem. Como, por exemplo, o plantio conjunto de gramíneas
(milhos) e leguminosas (feijão).
Também
podem ser utilizadas plantas consideradas inços, pois elas são bem adaptadas,
retiram nutrientes de camadas profundas, colocando-os em disponibilidade na
superfície e produzem grande volume de biomassa.
Antes
de implantar a cultura, estas plantas são incorporadas através de aração rasa
para que se decomponham e deixem os nutrientes disponíveis às culturas. No caso
dos pomares, são deixadas na superfície e controladas com roçadas baixas. Como
exemplo podemos citar o caruru, o picão branco, o nabo, a samambaia etc.
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Faça sua horta em consorcio de culturas |